segunda-feira, 14 de outubro de 2013

NOVA ESCOLA promove encontro entre Emilia Ferreiro e Telma Weisz

By JARDINEIRO   Posted at  15:58   Alfabetização No comments

Reunidas, duas das maiores especialistas em alfabetização conversam sobre ensinar a ler e escrever


NOVA ESCOLA promove encontro entre Emilia Ferreiro e Telma Weisz. Foto: Patricia Stavis
Telma Weisz (à esq.) Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), foi orientada por Emilia Ferreiro. É supervisora pedagógica do Programa Ler e Escrever da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo.

Emilia Ferreiro Psicolinguista argentina radicada no México, tem sete doutorados honoris causa. É pesquisadora emérita do Sistema Nacional de Investigadores do México (Cinvestav, em espanhol).
Há décadas se sabe que as crianças pensam sobre a escrita e querem descobrir para que ela serve e como funciona. Não pedem permissão para aprender: têm ideias sobre esse objeto de conhecimento que não foram ensinadas pela escola. Compreender o processo de aquisição da escrita pelos pequenos é fundamental e tornou-se possível com a divulgação de pesquisas de Emilia Ferreiro, referência mundial em alfabetização.

Durante cerca de uma hora e meia, Emilia conversou sobre o assunto com Telma Weisz, a convite de NOVA ESCOLA, que transmitiu o evento acompanhado em tempo real por cerca de 5 mil educadores. Entre os temas abordados estão a importância da Educação Infantil para inserir a criançada no mundo da escrita, a formação de escritores (e não apenas de leitores) e as transformações das práticas de leitura e escrita em meios digitais. Leia, a seguir, os principais trechos.

TELMA WEISZ Há, no Brasil, a ideia de que qualquer trabalho com a leitura e a escrita na Educação Infantil é uma antecipação do Ensino Fundamental. O que os pequenos podem aprender na pré-escola sobre leitura e escrita?

EMILIA FERREIRO Nessa fase, se dá a introdução à cultura escrita. Parece-nos normal comprar livros de histórias para uma criança que não sabe ler e ler para ela em voz alta. Muitas vezes, a colocamos no colo e a abraçamos, juntamente com o livro. Nesse abraço afetuoso, lhe damos acesso ao mistério. Porque a leitura em voz alta é um ato de mistério. Se a Educação Infantil vai permitir experiências fundamentais como essa, então, bem-vinda seja a introdução à cultura escrita, que para qualquer pessoa alfabetizada, de classe média, parece normal e natural. Isso possibilita à criança entender para que se lê e para que se escreve; que se queremos lembrar de algo podemos anotar; e que lendo obtemos informações que não tínhamos antes - sejam relevantes ou ocasionais. Permitir aos pequenos entender as funções da língua escrita não é antecipar o Ensino Fundamental, é contribuir para que eles ingressem nas práticas sociais pertinentes para a escrita. Nesse sentido, um dos elementos didáticos mais importantes na Educação Infantil são as bibliotecas de sala, das quais sou uma defensora convicta. Pude constatar, no México, o impacto enorme que elas têm nas turmas de 4 e 5 anos.

TELMA WEISZ Você falou da entrada no mundo da escrita pela leitura, mas uma questão importante, do meu ponto de vista, para as crianças da Educação Infantil é a possibilidade de escrever conforme suas ideias.

EMILIA FERREIRO Concordo plenamente. Estamos acostumados a oferecer cadernos, lápis e canetas e a estimulá-las a desenhar. E quando fazem uma coisa redonda, com alguns pontos dentro e umas linhas retas que saem dessa bola dizemos: "Já começou a desenhar. É uma figura humana!". Vemos com olhos positivos essa produção que, de outro ponto, poderia ser considerada feia, ruim. Quando dessas linhas retas saem outras, dizemos: "Já colocou dedos, olhos, cabelos". Ficamos fascinados diante da produção e não pensamos que ela pode começar a escrever. Se as letras não são convencionais, dizemos: "Melhor que não escreva". Aprender a escrever não é um processo idêntico, mas é parecido com aprender a falar. Se nos dissessem para não falar até pronunciarmos corretamente todos os sons, seríamos todos mudos. Faz sentido dizer que se aprende a ler lendo e que se aprende a escrever escrevendo, na medida em que enxergamos isso como um processo. Há uma maneira de escrever aos 3, 4 e 5 anos como há uma maneira de falar aos 3, 4 e 5 anos. Para a fala, não exigimos perfeição desde o início, mas fazemos isso com a escrita.

Nota sobre o autor

Jardineiro é blogueiro e autor do blog saber pragmatico. É graduado em Pedagogia e Gestão pública (IFPR)e pós-graduado em políticas públicas pelo IFPR.

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